Religiões afro-brasileiras cada vez mais são lideradas por homens.
Cresce o número de “pais de santo” no Brasil |
A revista ISTOÉ desta semana destacou o crescimento do número de “pais de santo” no Brasil nos últimos anos.
Desde os séculos XVIII e XIX, quando o candomblé se popularizou no
Brasil, as “mães de santo” sempre foram as protagonistas.
Acredita-se
que, como elas permaneciam em casa a maior parte do tempo, tinham mais
condições de estabelecer contato com as divindades.
Porém, assim como na
sociedade, papeis de homens e mulheres vem mudando rapidamente e uma
nova ordem parece estar se desenhando nacionalmente.
Um mapeamento dos terreiros da capital da Paraíba, feito pela ONG
Casa de Cultura Ilê d’Osoguiã, mostra que 54% dos 111 terreiros
cadastrados da cidade são liderados por homens.
Renato Bonfim, o fundador da ONG, sentencia:
“Em dez anos, se nada
for modificado, só teremos pais de santo em João Pessoa”.
A realidade é
semelhante em outras capitais, como Belo Horizonte, Belém e Recife.
Nilza Menezes, historiadora especializada em ciências da religião,
recentemente defendeu sua tese de doutorado que analisa a realidade em
Porto Velho, capital de Rondônia.
Nos quatro anos em que desenvolveu sua
pesquisa, ela apurou que 54 dos 106 terreiros da cidade são liderados
por pais de santo.
“Elas [mães de santo] vêm perdendo o espaço público
de poder, uma função que as projetavam socialmente”, diz Nilza.
“As
obrigações nas denominações de matriz africana são trabalhosas, o que
representa um complicador para a mulher moderna que cuida da casa,
estuda e trabalha.”
No catolicismo e em várias correntes de evangélicos, as mulheres não
conseguem ascender na hierarquia religiosa por causa da tradição.
Mas
seu reconhecimento em posições de liderança parecem ser um reivindicação
e um tema que nunca saiu de pauta nas igrejas.
Entre as religiões de
matriz africana, a situação já se inverteu.
“Os homens estão mais dedicados do que elas”, diz Sivanilton
Encarnação da Mata, o Babá Pecê, 48, que lidera a Casa de Oxumaré, há
mais de 20 anos.
Em 2012, o babalorixá diz que só conseguiu iniciar
filhos de santo do sexo masculino.
“Ter mais homens absorvendo o culto
dos orixás explica o fato de crescer o número de sacerdotes nos
terreiros”, opina.
Um contraste que chama atenção, segundo a historiadora Nilza, é que
as mulheres ainda são maioria entre os seguidores das religiões
afro-brasileiras.
Mesmo na Bahia, que consagrou a imagem das baianas
vestidas de branco nos terreiros, a mudança é perceptível.
“Acredito que
70% dos espaços de terreiros baianos sejam dirigidos por homens”,
afirma o antropólogo Júlio Braga, da Universidade Estadual de Feira de
Santana, que escreveu o livro “Candomblé – A Cidade das Mulheres, e dos
Homens”.
O candomblecista Bonfim, de João Pessoa, destaca que os homossexuais
já estão ocupando, inclusive, o espaço das mulheres nos rituais das
religiões afro-brasileiras.
“Eles usam paramentos femininos próprios
para a proteção dos seios, por exemplo, algo que não deveria ser feito”,
acredita.
Babá Pecê, da Casa de Oxumaré, ressalta que outras transformações também já aconteceram.
“Por exemplo, hoje aqui na Bahia, homens vendem acarajé como parte do
trabalho do terreiro.
Antigamente, apenas a mulher fazia isso”,
destaca.
Edvaldo da Silva, 29, foi criado numa família de baianas do acarajé.
Ele agora assume o lugar da mãe e da irmã.
Há um ano e meio é ele quem
comercializa o prato típico da Bahia na porta da Casa de Oxumaré.
“A
gente tem de invadir o espaço da culinária, já que elas estão cada vez
mais presentes na política do País”, brinca.
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