Maioria dos partidos terá candidatos gays na próxima eleição.
A travesti Sharlene Rosa é candidata a vereador pelo PT em Duque de Caxias (RJ) |
“Não basta ser gay, tem que ter proposta”, este é o lema citado por Toni Reis, presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Empunhando a “bandeira” dos direitos homossexuais, existem pelo menos 110 pré-candidatos a vereador nas eleições deste ano.
A associação mostra que eles estão afiliados a 19 partidos e pretendem concorrer em 23 Estados, em mais de 70 municípios.
Na última eleição, em 2008, seis vereadores foram eleitos dentre os 80 candidatos.
Os homossexuais estão ligados a siglas bastante conservadoras, como o PR dos evangélicos Magno Malta (ES) e Anthony Garotinho (RJ).
Mesmo estando na base do governo, os líderes do PR se pronunciaram contra a “lei anti-homofobia” (PL 122), argumentando que esse projeto de lei estimularia “a criação de um terceiro sexo”.
O travesti Moa Sélia disputa o terceiro mandato de vereador no município de Nova Venécia, Espírito Santo.
Ele já foi presidente da Câmara Municipal e é o presidente do PR municipal.
Sobre as diferenças com o senador, explica “Magno Malta e eu nos damos muito bem.
Ele elogia minha atuação, já me visitou aqui na cidade.
Acho que um dia ele vai entender melhor o nosso movimento.
Aos poucos, a gente vai se impondo perante a sociedade e até no meio político”.
O Partido da República discute a possibilidade de lançá-lo como candidato à prefeitura.
Moa comemora:
“Vou sempre pregar o reconhecimento dos LGBT, mas minha primeira bandeira é a moralização, o combate à corrupção.
Trabalhar a questão LGBT no interior depende de Brasília.
Não adianta criar leis municipais se não tiver respaldo no Congresso.”
Além de Moa, o transexual Sillvyo Luccio Nóbrega é candidato a vereador na cidade de Pacatuba, no Ceará.
O partido escolhido por ele também foi uma legenda conservadora, o PSDC, democrata cristão.
O ativista de 48 anos diz lutar para que as mulheres tenham acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) para, como Sillvyo, fazerem a cirurgia para assumir o sexo masculino.
“O partido não tem nada a ver com minha plataforma, mas, no meu município, é aberto, eclético e eu faço parte do diretório municipal.
Essas cirurgias praticamente não acontecem, não existem equipes multidisciplinares.
Ter um amigo gay é bem humorado, ter uma amiga lésbica é ser sem preconceito.
Mas ter um amigo transexual masculino, gestor público e candidato a vereador é muito forte.
Não importa o número de votos.
O importante é que sejamos candidatos e nos tornemos visíveis”, desabafa.
No PSDB existe o grupo “Diversidade Tucana”, grupo que reúne militantes e simpatizantes da causa gay.
Seu presidente é o funcionário público Marcos Fernandes, que disputa uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo.
Curiosamente, ele é correligionário do deputado João Campos (PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso.
Nas últimas semanas a Frente teve embates públicos com a ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, que defende a descriminalização do aborto, e o Secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, um católico fervoroso que defendeu uma guerra ideológica contra os evangélicos e sua influência.
Ambos acabaram recuando devido ao desgaste com os evangélicos.
Fernandes explica “Não enfrento problemas no partido e tenho sido muito bem recebido em várias comunidades, inclusive por evangélicos.
Não vejo entre os fiéis a mesma resistência da cúpula das igrejas”.
Marcos já disputou uma vaga de vereador em 2008, voltado para o público LGBT.
Não foi eleito e decidiu ampliar suas propostas.
“Este ano vamos tratar o tema da diversidade, da geração de emprego e renda, educação, capacitação, saúde, cultura.
Tenho uma preocupação, por exemplo, com os adolescentes mais afeminados, que sofrem mais bullying”.
Seu slogan para esta eleição é “São Paulo mais diferente e menos desigual”.
O travesti Sharlene Rosa (PT), 34, disputa uma vaga como vereador em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
“Sou do movimento LGBT e também combato o preconceito em geral, contra o idoso, o deficiente.
No caso do emprego, quero dar atenção à população que está na prostituição, mas gostaria de seguir outro caminho”, diz ele, que cobra da presidente Dilma Rousseff mais atenção aos homossexuais.
“Entendo que o PT sofre pressão da bancada evangélica, mas acredito que a Dilma vai tomar o rumo certo e olhar para a população LGB”, diz Sharlene.
E acrescenta:
“Quem sabe, nas próximas eleições, não posso entrar na cota feminina do partido?”.
Toni Reis explica “Não é nossa intenção afrontar os valores evangélicos e não queremos candidatos corporativistas.
Não basta ser LGBT para a gente votar.
A pessoa deve ter um histórico de luta e também propostas.
Orientação sexual não é pauta política”.
Ele acrescenta que o movimento LGBT incentiva todas as candidaturas, mas possui uma ampla gama de “aliados”.
Em 2008, apoiaram candidaturas como a do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), da prefeita de Fortaleza, Luizianna Lins (PT), o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy (PSDB), além de Fernando Gabeira (PV), Jandira Feghali (PC do B), Solange Amaral (PSD) e Alessandro Molon (PT).
Com informações Estadão
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