Pastor Paulo Romeiro.
Basta alguém questionar a posição doutrinária ou ética de algum líder
religioso para que ele ou seus simpatizantes imediatamente lancem mão
desta frase para se defenderem.
Alguém já disse, com sabedoria, que o poder odeia a crítica, e isto é uma verdade também no meio evangélico.
Ao afirmar isso, não estamos aqui defendendo a crítica barata,
vingativa, mas, sim a construtiva, feita de acordo com a Palavra de
Deus.
Essa expressão “não toqueis nos meus ungidos” aparece duas vezes na
Bíblia: em 1 Crônicas 16.22 e em Salmos 105.15; ambas as referências são
a respeito dos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó.
As duas
passagens não se referem a um questionamento ético ou doutrinário do
líder, mas a algum perigo para a integridade física de um ungido de
Deus.
Observe o que aconteceu com Abraão em Gênesis 20.1-13.
Estando em Gerar, mentiu ao rei Abimeleque, dizendo que Sara não era sua
esposa, a fim de se proteger. Impressionado com a beleza de Sara,
Abimeleque mandou buscá-la para fazê-la sua esposa.
Deus, porém, avisou o
rei em sonho durante a noite, dizendo-lhe que seria punido se tomasse
Sara como esposa, o que o levou a desistir do seu plano.
Embora
Abimeleque tivesse sido proibido por Deus de tocar no profeta (Gn 20,7) e
ungido do Senhor, isto é, de causar-lhe algum dano físico, Abimeleque
não hesitou em repreender Abraão por ter-lhe mentido.
Davi também, quando perseguido por Saul e com oportunidade para
matá-lo, limitou-se apenas em cortar-lhe a orla do manto, explicando com
estas palavras o motivo de seu comportamento:
“O Senhor me guarde de
que eu faça tal cousa ao meu senhor, isto é, que eu estenda a mão contra
ele, pois é o ungido do Senhor” (1 Sm 24.6).
Vemos novamente que o que
estava em questão era a vida de Saul e não sua posição doutrinária.
No Novo Testamento, a unção não é privilégio apenas de alguns, mas de
todos os que estão em Cristo. Na sua primeira epístola universal, João
mesmo reconheceu isso ao escrever:
“E vós possuís unção que vem do
Santo, e de todos tendes conhecimento” (1 Jo 2.20).
João acrescentou
ainda:
“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes
necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina
todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou,
assim nele permanecereis” (I João 2:27).
É verdade que Jesus disse no Sermão do Monte:
“Não julgueis, para que não sejais julgados”
(Mt 7.1).
Este é outro texto muito usado de forma seletiva e fora de
seu contexto como escudo contra qualquer tipo de questionamento.
O que Jesus está censurando nesta passagem é o julgamento hipócrita,
algo que ele deixa bem claro nos versículos 3 a 5: “E por que reparas
tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está
no teu olho?
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do
teu olho, estando uma trave no teu?
Hipócrita, tira primeiro a trave do
teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
Pode-se constatar que o apóstolo Paulo tinha o cuidado de obedecer as
palavras do Senhor Jesus pela sua exortação aos coríntios: “Antes
subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos
outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1 Co
9.27).
A Bíblia não proíbe o questionamento, pelo contrário,
encoraja-o. Quando chegou a Beréia, Paulo teve seus ensinos avaliados à
luz das Escrituras pelos bereanos.
É interessante que os
bereanos não foram censurados nem tidos como carnais porque examinaram
os ensinos de Paulo, mas, sim, foram elogiados e considerados mais
nobres que os de Tessalônica (At 17.11). Observe a atitude de João.
Apesar de ser amoroso (como “filhinhos”, “amados”) ele não deixou de
alertar seus leitores quanto aos perigos de ensinos e profetas falsos
com essas palavras:
“AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai
se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm
levantado no mundo” (1 Jo 4.1).
Parte integrante do Livro:
Evangélicos em Crise – Mundo Cristão
Nenhum comentário:
Postar um comentário