Presidente da rede Albert Einstein diz que já fez reuniões com o Papa e o Dalai Lama sobre o assunto.
“Os hospitais precisam começar a dar espaço para a fé”, afirma médico renomado |
O médico oftalmologista Claudio Lottenberg, 51, é
ex-secretário municipal de saúde de São Paulo (gestão 2006) e atual
presidente da rede de Hospital Albert Einstein, uma das maiores na área
da saúde particular e filantrópica do País.
Além da rede Einstein, ele também é responsável pela administração do
M’Boi Mirim, hospital público da periferia da zona sul paulistana e 14
Unidades Básicas de Saúdes.
É Professor da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) e do MBA em Saúde do IBMEC, Lottemberg é autor do livro
“A Saúde Brasileira pode dar Certo” (Ed. Atheneu).
Embora não seja bem aceito por todos os médicos, ele defende que é
preciso fazer da fé dos pacientes um procedimento padrão e essencial da
medicina.
“Se não for uma questão humanista, que seja por uma razão
econômica.
Já existem pesquisas que mostram que os pacientes terminais
com câncer que exercem a espiritualidade, por exemplo, dão menos custos
aos hospitais do que os com o mesmo perfil que não têm fé”, explica.
Em uma entrevista ao site iG, ele afirmou que faz distinção entre fé e religião:
“As pessoas usam a religião para compreender a fé, porque é um mecanismo mais fácil de entendimento.
Mas a fé não precisa ser atrelada à
religião.
Na saúde, até os ateus podem ter os benefícios do que as
pessoas chamam de fé.
É por meio da fé que conseguimos gerenciar o
estresse, que libera hormônios e neurotransmissores tóxicos ao
organismo”, comentou.
O motivo para essa posição é porque ele entende que há benefícios
comprovados nesse processo:
“O nervosismo não causa asma em ninguém, mas
cientificamente sabemos que os asmáticos, quando nervosos, podem ter
crises agravadas e morrer por isso.
Também é científico que as pessoas
que exercem a fé apresentam melhoras de saúde mais rápida, tempos mais
reduzidos de internação.
Já existem pesquisas que mostram que os
pacientes terminais com câncer que exercem a espiritualidade, por
exemplo, dão menos custos aos hospitais do que os com o mesmo perfil que
não têm fé.
Os hospitais precisam começar a dar espaço para a fé”.
Mas isso tudo é parte de um processo que pode ser bastante demorado.
“Já demos alguns passos, estamos engatinhando ainda.
Só o número
crescente de evidências científicas que mostram os benefícios da
espiritualidade nos tratamentos clínicos já mostra que o divórcio entre
fé e ciência está chegando ao fim”.
Por isso, faz uma proposta:
“Eu defendo que os médicos, ao menos, se
mostrem disponíveis e dispostos em perguntar se a fé é importante para o
tratamento dos pacientes.
E se a resposta for sim que não impeçam o
exercício dela.
Isso, no Einstein, já é protocolo de atendimento e uma
das bases da nossa missão”.
Lottemberg conta que já conversou pessoalmente sobre essa questão com
o ministro da saúde Alexandre Padilha, e líderes religiosos como o papa
Bento XVI e com o Dalai Lama.
Segundo ele, todos tem interesse nessa
questão.
Questionado se os médicos estão preparados para abrir espaço à fé de
seus pacientes, ele é direto:
“Einstein já disse que é mais fácil
quebrar um átomo do que um preconceito.
Acredito que começamos este
processo.
Os médicos precisam ocupar este espaço.
Porque deixá-los
vazios é permitir a invasão de pessoas de má fé.
Medicina tradicional é
complementada pela espiritualidade e vice-versa.
Uma oração não vai
substituir uma droga anticâncer”.
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