“Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará
também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para
junto do Pai.” João 14:12
Certo dia, um amigo muito angustiado me procurou, preocupado com o
seu ministério, dizendo que não conseguia adquirir a promessa de Jesus
descrita nesta passagem.
Em outras palavras, não chegava a um nível de espiritualidade elevada, a ponto de operar milagres maiores dos que o Mestre operou em seu ministério terreno.
Em outras palavras, não chegava a um nível de espiritualidade elevada, a ponto de operar milagres maiores dos que o Mestre operou em seu ministério terreno.
A primeira coisa que questionei: se realmente as “obras maiores” que
Jesus prometeu que iríamos fazer, for os sinais miraculosos que Ele
operou durante seu ministério terreno, então estamos com um problema
muito grave:
A realidade da Igreja hoje estaria muito distante do ideal!
Os sinais extraordinários operados por Jesus deveriam acontecer em
quantidades maiores, com milagres mais espetaculares e extraordinários
dos que o Mestre operou.
Imaginem, por exemplo, qual milagre seria maior
do que ressuscitar um morto?
Ou então reconstruir uma orelha decepada?
Confesso que até hoje não vi ninguém operar milagres e sinais
extraordinários como:
Andar sobre as águas, curar cegos e paraplégicos,
reconstituir mutilados, ressuscitar mortos, transformar água em vinho,
ler pensamentos, multiplicar pães e peixes etc.
Na verdade, o grande problema é que muitos pregadores “milagreiros”
utilizam Jo 14:12 de forma isolada e fora de contexto, interpretando o
texto de maneira literal, para tentar justificar seus truques de
ilusionismo e de misticismos exóticos.
Este errôneo “padrão de ensino”
vem sendo propagado há muito tempo nas igrejas neopentecostais
brasileiras, tendo em vista os inúmeros casos de pessoas que se
frustraram ministerialmente por não conseguir alcançar esta suposta
“promessa sobrenatural” de Jesus, bem como por serem vítimas dos
milagreiros fraudulentos.
Analisando o versículo de maneira exegética, o termo grego utilizado para “maiores” é meizõn, literalmente significa “coisas maiores”.
Já o vocábulo “obras” a palavra grega é ergon, que significa trabalho, ato, ação.
[1] O termo ergon é direcionado, em sentido amplo, a “trabalho”.
Na versão Bíblica inglesa King James (KJV), o vocábulo ergon
é empregado a “works”, que significa trabalho.
[2] Seguindo o contexto
direto da passagem, as “obras maiores” significam a longitude do
trabalho através da expansão do evangelho.
Em outras palavras: o foco é
trabalhos maiores e não milagres maiores!
Cristo não está afirmando que faríamos milagres extraordinários
maiores do que Ele fez, mas sim que a obra da Igreja, no poder do
Espírito Santo, será “maior” do que a obra de Jesus, em sentido numérico
e territorial.
As obras maiores estão diretamente conectadas à ida de
Cristo ao Pai (“porque eu vou para junto do Pai”), onde após
isso o Espírito Santo seria enviado (Jo 14:16) e os discípulos
revestidos de autoridade para anunciar o evangelho (At 1:8).
Quando o
Espírito foi derramado sobre os discípulos, todos eles pregaram a
Palavra de Deus. Com isso, converteram-se ao evangelho uma enorme
multidão de pessoas, quantidade bem mais numérica do que todas as
pregações de Jesus juntas (At 1:15, 2:41, 4:4, 5:14, 6:7, 9:35, 12:24,
16:15).
As “obras maiores” que os discípulos realizaram foram, sem
dúvida, às milhares de conversões de vidas, através da propagação do
evangelho pelo poder do Espírito Santo.
Os apóstolos não operavam milagres como meio de pregar o evangelho,
mas em casos específicos como sinais inquestionáveis do poder de Deus
(At 19:11).
O Evangelho em si tem como objetivo de salvar vidas e não de
operar milagres físicos, pois estes são meros coadjuvantes da mensagem
evangelística (1Co 15:1-4, 1Tm 1:15).
Em seus sermões, Jesus nunca
priorizou curas, milagres e sinais.
Os mesmos eram acompanhantes de suas
pregações, nos quais testificavam que Ele era o Messias Ungido de Deus.
Sendo assim, não devemos de forma alguma lamentar por não realizar
milagres iguais ou maiores dos que Cristo operou.
Na verdade, o nosso
lamento deve estar na superficialidade bíblica em que algumas igrejas
estão inseridas, pois o que é pregado e ensinado por muitos vem
prejudicando a essência da mensagem bíblica, enfatizando experiências
místicas extra-bíblicas em detrimento da verdadeira mensagem
evangelística que é a salvação e transformação de vidas.
O maior milagre que pode acontecer na vida de alguém é a salvação em Cristo Jesus.
Portanto, vamos anunciar o evangelho!
Soli Deo Gloria!
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