Outro
dia ouvi a história, provavelmente fictícia, de um crente novo que,
numa das primeiras vezes em que foi ao culto, foi surpreendido com a
seguinte situação: o pastor pediu que, um a um, todos recitassem o seu
versículo bíblico favorito.
O rapaz gelou.
Não é que ele não se lembrava
de nenhum texto bíblico; ele não conhecia nenhum.
Quando chegou a sua
vez, trêmulo, ele se levantou e declamou a única coisa que lhe havia
ocorrido:
“Limoeiro pequenino, todo coberto de flor; eu também sou
pequenino, mas sou cheinho de amor”.
O pastor reagiu:
“Mas irmão, isso
não está na Bíblia”.
“Se está ou não está eu não sei”, respondeu o
rapaz, “mas é tão bonitinho que até poderia estar”.
Na
verdade, a Bíblia é um livro bem grande, tão grande que já houve tempo
em que era impossível imprimi-la como um volume só.
Hoje, temos edições
bem compactas e a Bíblia parece um livro até pequeno.
Mas tem muito
texto na Bíblia.
Até mesmo uma edição de bolso tem mais de mil páginas!
E
nem sempre as pessoas têm certeza se determinado texto é da Bíblia ou
não.
É o caso de alguns ditados populares, por exemplo.
Especialmente
quando envolvem o nome de Deus.
Com certeza ninguém vai duvidar que
“Deus é amor” é uma palavra bíblica.
Agora, quando se trata de ditados
como “A voz do povo é a voz de Deus” ou “Cada um por si e Deus por
todos”?
Deve haver gente que acredita piamente que “a voz do povo é a
voz de Deus” faz parte da Bíblia.
Mas não faz.
Aliás, na maior parte do
tempo, ao menos na história bíblica, a voz do povo não é a voz de Deus.
Mesmo
sendo um livro tão grande, houve, ao longo da história de transmissão
do texto bíblico, a tendência de aumentar o texto.
Especialmente no caso
do Novo Testamento.
Acontece que, durante mais ou menos mil e
quinhentos anos, cada exemplar do Novo Testamento era uma cópia
individual, feita à mão.
Ou seja, cada igreja, para ter um Novo
Testamento, tinha que fazer uma cópia à mão.
Nestas circunstâncias, era
fácil a pessoa que copiava o texto fazer algum acréscimo.
Em muitos
casos, omitia algo, muitas vezes por engano.
Temos muitos exemplos
disso.
Em muitas cópias antigas da Bíblia, e até mesmo em algumas
edições do texto em português, aparece um “amém” num lugar que parece
estar pedindo um “amém”.
O final de Mateus, por exemplo: “e eis que
estou convosco todos os dias, até à consumação do século”.
Não cabe um
“amém”? Cabe.
E muitos copistas acrescentaram um “amém” por conta
própria.
Só que as melhores e mais antigas cópias do Evangelho de Mateus
não trazem um “amém” nesse lugar.
Outro caso semelhante é o final das
epístolas ou cartas do Novo Testamento.
A Segunda aos Coríntios, por
exemplo.
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão
do Espírito Santo sejam com todos vós”.
Não pede um “amém”?
Parece que
sim.
E teve copista do Novo Testamento que inseriu um “amém” nesse
lugar.
Só que nas cópias mais próximas do tempo em que o texto foi
escrito não tem nada disso.
No final do Apocalipse, diz o
seguinte:
“Eu, João, aviso solenemente aos que ouvem as palavras
proféticas deste livro: se alguma pessoa acrescentar a elas alguma
coisa, Deus acrescentará ao castigo dela as pragas descritas neste
livro.
E, se alguma pessoa tirar alguma coisa das palavras proféticas
deste livro, Deus tirará dela as bênçãos descritas neste livro” (Ap
22.18-19 - NTLH).
Este é um tipo de copyright e um jeito de dizer:
“Não
mexa no texto”.
“Não acrescente e não tire nada”.
E isto pode ser
aplicado à Bíblia como um todo:
Não acrescente nada.
Jesus disse (Mc 7),
repetindo uma palavra encontrada em Isaías 29:
“Em vão me adoram,
ensinando doutrinas que são preceitos de homens” (Marcos 7.7).
Quem
acrescenta algo por conta própria, está fazendo ensinamento de homem.
O
que não tem base bíblica é preceito de homem.
Somente a Escritura.
Nada
mais.
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