Um dos fenômenos mais curiosos envolvendo religião nos EUA, algo que se observa no mesmo grau no Brasil, é o preconceito que grande porcentagem da população religiosa nutre contra os ateus.
Pesquisas de opinião
indicam que 55% dos eleitores cristãos não votariam em alguém de seu
partido que não acreditasse em Deus.
Mais da metade dos americanos
também não gostaria que seus filhos se casassem com pessoas atéias.
Supor que quem não crê em Deus carece de moralidade não é uma
invenção nova, mas a polarização ideológica do país parece estar
exacerbando isso.
O ateísmo militante, uma prática que também é menos
comum no Brasil, parece ser a reação de um grupo de pessoas que vêm se
sentindo acuadas.
Quem não professa nenhuma fé religiosa acaba tendo que
ir para a rua e fazer campanha para ser respeitado.
Acredito que o preconceito contra ateus seja um problema menor no
Brasil, um país que já reelegeu Fernando Henrique Cardoso, candidato que
em eleições anteriores se recusara a declarar sua crença (ou falta de).
Nas duas eleições que venceu, contou com a decência de seu adversário
Lula, que não apelou para acusações religiosas durante a campanha.
Não
imagino isso acontecendo aqui nos EUA, onde a desconfiança de cristãos
contra ateus é até maior do que contra outras religiões.
Na tentativa de entender a raiz desse preconceito na América do Norte, uma dupla de psicólogos fez um curioso experimento em Vancouver, no Canadá. (OK.
Na tentativa de entender a raiz desse preconceito na América do Norte, uma dupla de psicólogos fez um curioso experimento em Vancouver, no Canadá. (OK.
O Canadá não é os EUA, mas o país possui uma pequena amostragem da
cultura conservadora que os cientistas estavam estudando.)
Ara Norenzayan e Will Gervais, da Universidade da Columbia Britânica, supõem que o preconceito contra os ateus surge da crença de que quem não teme a punição divina tende a agir de maneira egoísta e inconsequente.
Ara Norenzayan e Will Gervais, da Universidade da Columbia Britânica, supõem que o preconceito contra os ateus surge da crença de que quem não teme a punição divina tende a agir de maneira egoísta e inconsequente.
“Há
muito tempo os ateus são alvo de desconfiança, em parte porque eles não
acreditam que um Deus vigilante e julgador monitora seu comportamento”,
dizem os pesquisadores.
O experimento dos cientistas consistiu em dividir um grupo de pessoas que se declaravam cristãs em dois e exibir diferentes vídeos para cada um deles, antes de submetê-los a um questionário.
O experimento dos cientistas consistiu em dividir um grupo de pessoas que se declaravam cristãs em dois e exibir diferentes vídeos para cada um deles, antes de submetê-los a um questionário.
Um dos grupos assistiu a um filme genérico sobre turismo
em Vancouver, e o outro assistiu a um vídeo do chefe de polícia da
cidade relatando a eficiência da corporação.
Esse segundo vídeo, segundo os psicólogos, servia como uma mensagem subliminar para lembrar às pessoas de que a vigilância da autoridade policial também ajuda a fazer com que as pessoas andem na linha.
Esse segundo vídeo, segundo os psicólogos, servia como uma mensagem subliminar para lembrar às pessoas de que a vigilância da autoridade policial também ajuda a fazer com que as pessoas andem na linha.
Em outras palavras, o filme
reforçava a idéia de que os ateus não temem a punição de Deus, mas devem
temer a punição do Estado contra atitudes que prejudiquem outras
pessoas.
Após a exibição dos filmes, os voluntários respondiam a um questionário para dizer o quanto desconfiavam do comportamento de diversos grupos minoritários, incluindo ateus, gays, judeus e muçulmanos.
Após a exibição dos filmes, os voluntários respondiam a um questionário para dizer o quanto desconfiavam do comportamento de diversos grupos minoritários, incluindo ateus, gays, judeus e muçulmanos.
O resultado foi o esperado pelos psicólogos: aqueles que
tinham assistido ao vídeo do chefe de polícia eram menos inclinados a
declarar a falta de confiança nos ateus.
“Lembretes sobre a autoridade secular podem, então, reduzir a desconfiança dos teístas contra os ateus”, escreveram os psicólogos.
“Lembretes sobre a autoridade secular podem, então, reduzir a desconfiança dos teístas contra os ateus”, escreveram os psicólogos.
“Tanto os governos quanto os
deuses podem encorajar o comportamento pró-social.”
Um dado curioso do estudo de Norenzayan e Gervais é que o preconceito contras judeus, muçulmanos e, sobretudo, contra os gays, não se atenuava após os vídeos.
Um dado curioso do estudo de Norenzayan e Gervais é que o preconceito contras judeus, muçulmanos e, sobretudo, contra os gays, não se atenuava após os vídeos.
Isso reforça a interpretação dos autores sobre os resultados,
pois a orientação sexual das pessoas não está sob controle do Estado.
Achei o estudo interessante, mas não sei o quanto pode ser útil para combater esse preconceito nos Estados Unidos.
Achei o estudo interessante, mas não sei o quanto pode ser útil para combater esse preconceito nos Estados Unidos.
Como ateu, acho incômodo
pensar que uma pessoa só depositaria sua confiança em mim se eu estiver
sob vigilância da polícia.
Sei que não são todos os religiosos que
pensam dessa maneira estúpida, mas é triste pensar que muitos ainda têm
essa mentalidade retrógrada.
Pessoalmente, tenho impressão de que o fanatismo religioso ignora um mecanismo psicológico muito mais fundamental.
Pessoalmente, tenho impressão de que o fanatismo religioso ignora um mecanismo psicológico muito mais fundamental.
Quando fazemos mal a alguém, há algo que faz com que nos
sintamos mal.
Nós, ateus, sentimos culpa, remorso, tanto quanto qualquer outra pessoa deveria sentir.
Nós, ateus, sentimos culpa, remorso, tanto quanto qualquer outra pessoa deveria sentir.
E deixar alguém feliz faz com que
nos sintamos bem.
Será que o preconceito contra o ateísmo diminuiria se
os teístas fossem lembrados disso?
Fonte: Paulopes
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