Maldito o dia em que nasci; não seja bendito o dia em que minha mãe me deu à luz.
Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho; alegrando-o com isso grandemente.
E seja esse homem como
as cidades que o SENHOR destruiu e não se arrependeu; e ouça clamor pela
manhã, e ao tempo do meio-dia um alarido.
Por que não me matou na madre? Assim minha mãe teria sido a minha sepultura, e teria ficado grávida perpetuamente!
Por que saí da madre, para ver trabalho e tristeza, e para que os meus dias se consumam na vergonha? Jeremias 20 (14-18).
O serviço do Senhor é bastante duro; não é um papel
indicado para qualquer pessoa.
Pelo relato bíblico, parece que as
pessoas que são mais usadas por Deus como instrumentos na obra dele
passam por grandes aflições.
Não é de admirar então que Paulo exortasse
Timóteo para que se fortalecesse a fim de passar por tribulações:
“Portanto, não se envergonhe de testemunhar do Senhor, nem de mim, que
sou prisioneiro dele, mas suporte comigo os meus sofrimentos pelo
evangelho, segundo o poder de Deus …
Suporte comigo os meus sofrimentos,
como bom soldado de Cristo … suporte os sofrimentos …” (2 Timóteo 1:8;
2:3; 4:5).
A palavra de Deus desmente as doutrinas de ”parar de sofrer”
que são promulgadas por determinadas igrejas de nossa época.
A realidade
das duras provações na vida cristã assusta vários discípulos que ficam
abalados ao ponto de deixar de trabalhar para o Senhor.
Será que nós
também engolimos o mito de que a vida cristã deve ser livre de angústia?
A vida de Jeremias nos dá bastante auxílio para
encarar bem os sofrimentos do servo do Senhor.
Note as seguintes etapas
da carreira dele:
O chamamento.
Quando Deus chamou Jeremias para ser profeta (1:5),
ele não queria aceitar:
“Ah, Soberano Senhor!
Eu não sei falar, pois
ainda sou muito jovem” (1:6).
O Senhor respondeu que ele lhe daria as
palavras e que ele determinaria a programação (1:7).
Também ele se
comprometeu a estar com Jeremias:
“Não tenha medo deles, pois eu estou
com você para protegê-lo” (1:8).
O Senhor também concedeu a Jeremias os
recursos dos quais ele precisaria para resistir aos ataques dos
inimigos:
E hoje eu faço de você uma cidade fortificada, uma coluna de
ferro e um muro de bronze, contra toda a terra: contra os reis de Judá,
seus oficiais, seus sacerdotes e o povo da terra.
Eles lutarão contra
você, mas não o vencerão, pois eu estou com você e o protegerei”
(1:18-19).
Deus já deixou Jeremias prevenido dos esforços dos oponentes,
mas lhe deu plena certeza da presença dele para capacitá-lo a encarar
todas as dificuldades.
A mensagem.
Jeremias pregou ousadamente a mensagem que o Senhor
lhe deu:
“O meu povo cometeu dois crimes: eles me abandonaram, a mim, a
fonte de água viva; e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas
rachadas que não retêm água” (2:13).
Ele expôs a infidelidade e a
insensatez do povo de Judá por ter abandonado a única fonte do bem e por
ter corrido atrás dos ídolos vazios.
A primeira crise.
A pregação corajosa da palavra do Senhor por Jeremias
irritou muita gente que não queria que seus pecados fossem expostos e
condenados.
A pregação da palavra de Deus raramente conduz à
popularidade.
O tom de autoridade é desgostoso para o homem rebelde.
As
pessoas que ficam ressentidas com a mensagem perturbadora geralmente
recorrem a medidas ou para calar o mensageiro ou para acabar com ele.
Não era diferente com Jeremias.
O Senhor revelou para Jeremias que os
homens estavam tramando para matá-lo.
Estes homens incluíram o pessoal
da própria cidade dele, Anatote (veja 11:18-23).
Jeremias não entendeu a razão pela qual o Senhor
deixou o caminho dos ímpios prosperar.
Ele queria saber até quando a
terra iria sofrer por causa da perversidade deles que Deus estava
aparentemente tolerando.
Era especialmente difícil para os santos no
velho testamento porque não tinham nítida visão da vida eterna.
Foi
Cristo que “trouxe à luz a vida e a imortalidade por meio do evangelho”
(2 Timóteo 1:10).
Antes de Cristo, os fiéis esperavam bênção ou castigo
nesta vida.
Então quando o Senhor deixava os ímpios permanecerem impunes
era bastante difícil para irmãos como Jeremias entender.
A resposta do Senhor à angústia de Jeremias era bem
chocante.
Ao invés de simpatizar e confortar, o Senhor repreendeu e
desafiou.
Respondeu de três formas:
”Se você correu com homens e eles o
cansaram, como poderá competir com cavalos?
Se você tropeça em terreno
seguro, o que fará nos matagais junto ao Jordão?” (12:5).
Deus estava
repreendendo Jeremias por ter ficado tão preocupado com pouca
provocação.
Se ele nem conseguisse caminhar um quilômetro, vamos dizer,
como é que ele iria agüentar a maratona?
Nós devemos ter cautela para
não sentir muita pena de nós mesmos, porque é bem provável que a
situação piore e aí faremos o quê?
Deus revelou que a situação já era
pior do que ele imaginava:
“Até mesmo os seus irmãos e a sua própria
família traíram você e o perseguem aos gritos.
Não confie neles, mesmo
quando lhe dizem coisas boas” (12:6).
Não eram apenas os compatriotas da
cidade nativa que estavam tramando contra ele, eram os próprios
familiares!
Ele já passou por trechos angustiantes, mas a realidade
ficou mais horrível ainda.
Será que para nós também os atuais
sofrimentos têm a finalidade de nos fortalecer a fim de suportarmos as
verdadeiras angústias vindouras?
Deus mostrou que os sofrimentos de
Jeremias eram bem mais leves do que os dele mesmo:
“Abandonei a minha
família, deixei a minha propriedade e entreguei aquela a quem amo nas
mãos dos seus inimigos.
O povo de minha propriedade tornou-se para mim
como um leão na floresta …” (12:7-8).
O que o Senhor estava passando era
bem pior do que os sofrimentos de Jeremias, pois ele tinha que
abandonar o que ele criou e tanto amou.
Dificilmente refletimos no lado
das decepções que o Senhor experimenta.
A segunda crise.
Jeremias chegou ao ponto de sentir-se muito solitário
por causa da rejeição quase universal que passou.
“Todos me
amaldiçoam”, Jeremias reclamou, e afirmou que não tinha feito nada para
merecer tal horror (15:10-11).
“Jamais me sentei na companhia dos que se
divertem, nunca festejei com eles.
Sentei-me sozinho, porque a tua mão
estava sobre mim e me encheste de indignação” (15:17).
Foi bem duro para
Jeremias ser excluído de tudo por causa da tarefa severa que ele
possuía de anunciar a palavra do castigo.
Ninguém queria se associar com
ele.
Por isso, Jeremias voltou-se contra o Senhor:
“Por que é
permanente a minha dor, e a minha ferida é grave e incurável?
Por que te
tornaste para mim como um riacho seco, cujos mananciais falham?”
(15:18).
Antes, Jeremias havia pregado que Deus era “fonte de água viva”
(2:13), mas agora o chamou de riacho seco.
Até mesmo grandes homens de
Deus caem.
A resposta do Senhor à reclamação de Jeremias me
surpreende.
De novo, ao invés de simpatizar com Jeremias, o
Todo-poderoso o desafiou:
“Se você se arrepender, eu o restaurarei para
que possa me servir; se você disser palavras de valor, e não indignas,
será o meu porta-voz.
Deixe este povo voltar-se para você, mas não se
volte para eles” (15:19).
O profeta havia fracassado e a solução era que
ele se arrependesse da sua auto-compaixão rebelde e voltasse ao Senhor.
Só assim ele seria o porta-voz do Senhor.
Desde que ele já era o
porta-voz do Senhor, esta promessa que ao se arrepender ele se tornaria o
porta-voz significa que estas queixas contra o Senhor já havia tirado
dele esta função.
Deus estava lhe dando uma segunda chance, mas ele não
deu ouvidos às reclamações.
Ele não achou a situação insuportável para
Jeremias, não.
E depois ele repetiu as palavras do chamamento (15:20-21;
veja 1:18-19), assim mostrando que as instruções de que Jeremias
necessitava para vencer o desafio estavam já em suas mãos.
Auto-compaixão não faz com que o Senhor dê o braço a
torcer.
Jeremias estava tão triste por causa do seu isolamento, porém no
próximo capítulo (16) Deus ordenou que ele não se casasse e que não
fosse nem para velórios nem para festas.
Estes mandamentos certamente
teriam aumentado este sentimento de solidão que Jeremias passava, mas
Deus decretou-os mesmo assim.
Aplicação.
Temos que suportar sofrimentos.
O cristianismo não é
para pessoas moles.
Somente pessoas com coragem e determinação resoluta
terão a força necessária para prosseguir neste caminho.
Cristo cria bons
soldados não mimando-os, mas deixando-os passar por grandes
dificuldades.
A preparação militar, ou até mesmo o treino esportivo, é
duro.
Nenhum general orienta suas tropas dando-lhes o máximo de conforto
e descanso.
Nenhum técnico fortalece seus atletas sem dor e suor.
Do
mesmo jeito podemos nos preparar para passar por momentos duros na vida
cristã, porque o Senhor quer que fiquemos fortes e firmes.
Talvez nós já
imaginamos que a vida é bem difícil, mas estas dificuldades podem ser
designadas meramente como entrada às verdadeiras provações do futuro.
Se
já nos rendermos, como é que superaremos os desafios maiores?
O projeto do Senhor não é que paremos de sofrer nesta
terra, mas que as angústias fortaleçam nossa fé ao ponto que fica
“muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo
fogo” e que resulta “em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for
revelado” (1 Pedro 1:7).
Não importa a dureza dos momentos aqui, são
leves e momentâneos em comparação com a “glória eterna que pesa mais do
que todos eles” (2 Coríntios 4:17).
Que aprendamos com Jeremias a
suportar sofrimentos sem queixa e sem auto-compaixão!
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