O
suicídio é uma das primeiras causas de morte em homens jovens nos
países desenvolvidos e emergentes.
Mata 26 brasileiros por dia e ninguém
fala no assunto.
No Brasil, a taxa de suicídio entre adolescentes e
jovens aumentou pelo menos 30% nos últimos 25 anos.
O crescimento é
maior do que o da média da população, segundo o psiquiatra José Manoel
Bertolote.
Informou matéria da Folha nesta terça-feira (11).
A curva ascendente vai contra a tendência
observada em países da Europa ocidental, nos Estados Unidos, na China e
na Austrália.
Nesses lugares, o número de jovens suicidas vem caindo,
ao contrário do que acontece no Brasil, aponta um estudo da University College London publicado no periódico Lancet no ano passado.
“Na década de 1990, a taxa de suicídios
aumentava em todos os países do mundo, e a OMS (Organização Mundial da
Saúde) lançou um programa de prevenção.
Os países que fizeram campanhas
de esclarecimento conseguiram baixar os números.
É importante falar do
assunto”, diz o psiquiatra Neury Botega, da Unicamp.
Assunto ‘intocável’.
O
tema é tabu até para profissionais de saúde.
Nos registros do Datasus
(banco de dados do Sistema Único de Saúde), aparece como “mortes por
lesões autoprovocadas voluntariamente”.
Um longo eufemismo, segundo
Botega.
Evita-se a palavra, mas o problema se perpetua.
Em cursos de prevenção, o psiquiatra
registrou as crenças de profissionais de saúde.
Muitos acham que
perguntar à pessoa se ela pensa em se matar já pode induzi-la a consumar
o ato.
”Não temos esse poder de inocular a ideia na pessoa.
E, se não
tentarmos saber o que ela está pensando sobre o assunto, não
conseguiremos ajudá-la”, diz o psiquiatra.
A taxa cresce por uma conjugação de
fatores.
“A sociedade está cada vez menos solidária, o jovem não tem
mais uma rede de apoio.
Além disso, é desiludido em relação aos ideais
que outras gerações tiveram”, diz Neury.
Há ainda uma pressão social para ser
feliz, principalmente nas redes sociais.
“Todo mundo tem que se sentir
ótimo.
A obrigação de ser feliz gera tensão no jovem”, diz Robert
Gellert Paris, diretor da Associação pela Saúde Emocional de Crianças e
conselheiro do Centro de Valorização da Vida (CVV).
O aumento de casos de depressão em
crianças e adolescentes é outro componente importante.
“Mais de 95% das
pessoas que se suicidam têm diagnóstico de doença psiquiátrica”, diz
Bertolote.
Junte-se tudo isso ao maior consumo de álcool e drogas e a
bomba está armada.
Prevenção.
A
troca de informações sobre o suicídio pode evitar muitos casos: de
acordo com a OMS, dá para prevenir 90% das mortes se houver condições
para oferta da ajuda.
Quem pensa em suicídio está passando por um
sofrimento psicológico e não vê como sair disso.
Mas não significa que
queira morrer.
“O sentimento é ambivalente: a pessoa
quer se livrar da dor, mas quer viver.
Por dentro, vira uma panela de
pressão.
Se ela puder falar e ser ouvida, além de diminuir a pressão
interna, passa a se entender melhor”, diz Paris.
O CVV oferece apoio 24 horas pelo telefone 141 e pelo site www.cvv.org.br.
Fonte: Folha
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