Milhões de gafanhotos pousaram no início desta semana no sul de Israel, trazidos por vento soprado do vizinho Egito.
Eles
foram recebidos por agricultores e pelo governo como a praga bíblica
que, faminta e descontrolada, devora e destrói as plantações.
Mas os próprios insetos foram devorados por quem, morando no território desértico do Neguev, viu neles a chance de um lanchinho.
As
notícias de que gafanhotos estavam servindo de aperitivo à população,
porém, preocuparam autoridades rabínicas, que se voltaram aos textos
sagrados do judaísmo para responder à pergunta recém-surgida: comer esse
inseto é “kosher”?
O termo se refere aos alimentos que são vistos
como adequados para o consumo de acordo com as leis do judaísmo. Por
exemplo, carne de porco não é “kosher”.
A questão é uma controvérsia antiga no judaísmo, com tratados medievais discutindo a adequação ou não da ingestão de gafanhotos.
Isso
porque o texto de Levítico (livro da Bíblia), que legisla sobre a
questão, cita quatro tipos desse artrópode que podem ser comidos.
Mas
não há consenso sobre a quais espécies o texto se refere, dando início
ao debate.
Na quarta-feira, um importante rabino afirmou que, na
dúvida, é melhor não comer nenhum, já que não é possível ter certeza de
que os gafanhotos do Neguev estão entre os aceitos.
“Nós não
estamos familiares com seus nomes e não temos uma tradição clara a
respeito deles”, afirmou o rabino Yitzhak Yosef, citado pelo jornal
local “Haaretz”.
O biólogo Ari Zivotofsky, especializado em
alimentação religiosa, examinou alguns dos gafanhotos recém-chegados e
afirmou à Folha acreditar que eles sejam “kosher” –esses são, diz,
aqueles descritos no texto pelo nome “chagav”, incluídos na lista dos
permitidos.
A discussão, afirma o biólogo, é uma tentativa de
determinar o que é tradicional ou não para os judeus, uma das bases da
lei religiosa.
O centro da questão é que certos grupos de judeus,
como os vindos da Alemanha, passaram séculos sem nunca ter precisado
pensar sobre gafanhotos, já que ali os enxames não são comuns.
Os judeus iemenitas, por sua vez, mantiveram a tradição de devorar os insetos.
“Agora há alemães e iemenitas vivendo lado a lado em Israel, e então surge a questão”, diz Zivotofsky.
Em
2005, quando o último enxame chegou a Israel, diversos grupos
consideraram permitido comer gafanhotos, e há disponíveis na internet
receitas para o preparo do inseto –comum em outros países, como a
Tailândia.
Extraído do site da Folha.com.br no dia 09/03/2013
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