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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

“Igreja brasileira se tornou rica, mas sem visão”, afirma estudioso .

Missiólogo David Botelho faz uma avaliação negativa da Igreja brasileira.
Missiólogo David Botelho

Com a experiência que acumulou ao longo de décadas divulgando o trabalho missionário transcultural no Brasil e no mundo, o missiólogo e estudioso de missões, David Botelho faz um novo apelo à igreja brasileira. 

“Em 20 anos a igreja quase quadruplicou em tamanho, prosperou em finanças, junto com o Brasil que se tornou a sexta economia mundial, será a quinta até o final do ano que vem e a quarta em 2020”, lembra ele em uma carta aberta divulgada pela missão Horizontes América Latina, a qual ele lidera. 

Porém, o crescimento da igreja no país não o anima. Afinal, o Brasil era apontado como um dos “celeiros missionários” da igreja mundial.

Pelo contrário, na avaliação de David e da Missão Horizonte, as missões parecem estar regredindo no país.

Ele aponta um estudo feito com o foco na realidade da igreja no Brasil nos próximos anos e revela: 

“Em 2005 fizemos um planejamento estratégico de 10 anos para avaliar a igreja brasileira em 2015… Para isto usamos os fatos listados que afetaria na conclusão”. 

Os fatores apontados por ele são: 

• Vida Espiritual
• Discipulado
• Denominacionalismo
• Visão Missionária
• Economia Brasileira
• Renda per Capita e Distribuição de Renda
• Indústria
• Relações Internacionais do Brasil
• Inclusão Digital

O resultado foi uma situação bem familiar para quem conhece o livro de Apocalipse. 

Para o líder missionário, a situação do Brasil hoje poderia ser comparada à Igreja de Laodiceia. 

“Estima-se que 1/4 da população brasileira é evangélica e é superficial na vida cristã, a igreja se tornou rica e abastada, mas sem visão. 

A mídia evangélica tem influenciado com a teologia da prosperidade, formando uma mentalidade materialista e mundanista, aumentando a estrutura de poder das denominações. 

O discipulado é fraco e não atende a todas as necessidades da igreja, que tornou-se intelectualizada voltada para os seus próprios interesses. 

A falta de espiritualidade resultou no desinteresse e falta compromisso com missões. 

Os missionários têm sido negligenciados em todas as áreas de apoio”, enfatiza o relatório da missão.

As críticas de Botelho são conhecidas. Diversas vezes ele já falou sobre isso em congressos e encontros que debateram missões. 

Ele ressalta que, em 2012, a igreja ainda ignora a sua responsabilidade de envio, sustento e cuidado missionário. 

“Há uma diminuição considerável pela procura de treinamento missionário por duas razões: a zona de conforto e a falta de sustento. 

O treinamento tornou-se a curto prazo e com procura por cursos a distância. 

Esta situação tem limitado o número de candidatos e obreiros de base nas agências missionárias causando um aumento no custo de formação. 

Há menor busca por especialização, literaturas bíblicas e cursos de missões, afetando o ministério de mobilização e investimento missionário”.

Isso tudo colabora para que o país envie proporcionalmente menos missionários do que 20 anos atrás. Uma situação que inspira uma mudança drástica. 

Por fim, a carta enviada pelo líder de missões traz uma reflexão em forma de ilustração: 

“Imagine se contratássemos um auditor de planejamento para analisar e dar seu parecer sobre a igreja para onde ela deveria ir, a fim de cumprir o seu propósito máximo. 

Ele faria algumas perguntas com o objetivo de chegar a uma conclusão. 

Sua primeira pergunta talvez fosse: 

Qual é a tarefa principal da igreja?

Responderíamos que é tornar Cristo conhecido por toda criatura, em todo o mundo.
 
Em seguida perguntaria com quem a igreja conta atualmente?

Responderíamos que a igreja possui mais de 800 milhões de cristãos verdadeiros. 

Ele ficaria surpreso!

A terceira pergunta seria: Quais são os recursos com os quais contamos hoje?
Responderíamos que mais de 50% dos cristãos no mundo são classificados como ricos e que somente 13% são verdadeiramente pobres. 

Temos todas as estratégias e os melhores treinamentos para evangelizar todos os povos, tribos, e nações. 

Temos métodos de tradução da Bíblia para as línguas que nada têm do livro sagrado e condições de terminar a tarefa em nossa geração. 

Sua admiração seria ainda maior.

Uma última pergunta: 

Vocês sabem onde se encontram as pessoas não seguidoras de Cristo, alvos da pregação?

Orgulhosos, responderíamos com riquezas de detalhes que a maioria delas, ou 95% dos menos alcançados da terra, está concentrada numa região do mundo que denominamos Janela 10-40. Lá estão aproximadamente 2.3 bilhões de pessoas que chamamos de os menos alcançados, pelo evangelho, da terra.

Nosso interlocutor a essa altura estaria em êxtase com grande admiração pelo conhecimento demonstrado, recursos financeiro e pessoal que possuímos. 

E sua conclusão seria: 

Vocês não são sérios naquilo que creem e fazem”.

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