Moralidade é parte integrante do cérebro.
Rabino tenta provar que neurociência pode explicar a fé |
O cérebro desempenha um papel importante na maneira como as
pessoas estabelecem sua relação os outros e nele residem as questões
morais.
Embora essa declaração seja esperada de um cientista, analisar
como o cérebro processa a relação com Deus é o desafio do rabino Ralph
Mecklenburger, do Texas, que escreveu um livro sobre o assunto
recentemente.
“Nosso cérebros determina tudo o que fazemos”, disse Mecklenburger,
que além de liderar a Congregação Beth-El, na cidade de Fort Worth,
também é professor na Brite Divinity School, uma universidade cristã.
“Nosso cérebro estabelece que tipo de arte ou de música gostamos.
Ele
definitivamente também molda a nossa religião”.
No seu livro, “Our Religious Brains: What Cognitive Science Reveals
About Belief, Morality, Community and Our Relationship With God” [Nossos
cérebros religiosos: o que a ciência cognitiva revela sobre crença,
moralidade, comunidade, e nosso relacionamento com Deus], ele afirma:
“As nossas crenças, a nossa espiritualidade, nosso senso de comunidade,
nossa relação com as pessoas e com Deus não são menos dependentes de
nossos cérebros que atividades triviais como ler, rir, exercitar,
resolver problemas, amar e tudo o mais o que fazemos”.
Mecklenburger tornou-se interessado no funcionamento do cérebro
muitos anos atrás, quando seu filho, Alan, foi diagnosticado com
transtorno de déficit de atenção, aos 5 anos.
“Eu queria saber como o
cérebro do meu filho era diferente dos outros”, disse.
Alan fez um tratamento e hoje é um consultor de informática formado pela Universidade do Texas, em Austin.
O rabino começou a ler muito sobre a neurociência e se apaixonou pelo
assunto.
“Eu encontrei este material fascinante, porque nos ajuda a
descobrir quem eu sou e quem você é.
Realmente, algo incrível.
Há cerca
de cem bilhões de neurônios em seu cérebro.
Todos estão interligados. É
aí que a surge nossa consciência. Um verdadeiro milagre”.
Entre as pesquisas citadas, estão as do Dr. Andrew Newberg e do
falecido Eugene d’Aquil, que usaram imagens tomográficas para estudar o
que acontece dentro do cérebro de religiosos meditando e rezando,
incluindo monges budistas, padres e freiras.
Curiosamente, os dois
grupos demonstraram um fenômeno semelhante: menor atividade na parte
traseira superior do cérebro, que nos orienta no tempo e no espaço.
Quanto mais profunda era a meditação, os monges diziam se sentiam
mais integrados ao universo.
As freiras, durante a oração intensa,
diziam sentir um contato mais íntimo com Deus.
“O fato é que eles perderam a distinção de tempo e espaço e começaram
e imergir em outro estado de consciência”, disse Mecklenburger.
“Ao
sentir essa ‘conexão’, revelaram algo que a física moderna já é capaz de
explicar”.
O mais importante, disse ele, é que o estudo mostra que algo
realmente diferente ocorre no cérebro durante qualquer experiência
espiritual.
Essa investigação científica sobre oração, a meditação e
outras práticas sagradas não diminui a importância da religião, ressalta
o rabino.
Ele também defende que nossa estrutura cerebral “nos
predispõe para encontrar a fé”.
“Faz parte de nossa natureza sentir temor diante deste grande
universo e encontrar maneiras diferentes de lidar com ele.
Uma dessas
formas é a religião.
Nossos cérebros exploram inúmeras possibilidades do
que é a vida.
As mais complexas são as religiosas.
É a religião que nos
aponta a principal maneira de ver mundo e dar sentido a ele”.
A moralidade básica, segundo ele, é parte essencial do nosso cérebro.
O bom comportamento é aprendido com os pais, através de experiências e
na igreja.
Mas a neurociência indica que a moralidade também faz parte
da estrutura cerebral desde que nascemos.
“Há um certo egoísmo básico em todos nós”, disse.
“É parte da
natureza humana.
Nossa tendência é pensar, ‘Quero tudo para mim.”
Ele explica que podemos ‘programar’ nossos cérebros para nos impedir
de ceder às tentações (comer mais do que devíamos, ter um caso
extraconjugal ou dizer/fazer alguma coisa errada).
“Mas os desejos relacionados a sexo, fome e poder são os mais fortes.
Ainda muito frágeis.
Às vezes a programação funciona, às vezes não”,
enfatiza.
A religião e seus ensinamentos morais ajudariam a dominar esses
‘padrões cerebrais negativos’.
“Às vezes é literalmente uma parte do
cérebro lutando contra outra parte do cérebro”.
Mecklenburger conclui que mesmo as pessoas que não acreditam em Deus,
acabam acreditando em alguma outra coisa.
“Nosso cérebro precisa
encontrar uma maneira de se relacionar com o mundo…
Algumas pessoas
acabam usando isso para a política.
Outras para a filosofia ou a
ciência.
Há quem se resuma a usar isso para buscar dinheiro e prazer”.
Traduzido de Star Telegram.
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