“Se eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro” (Jo 5.31). “Respondeu Jesus, e disse-lhes: Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro” (Jo 8.14). |
Diante desses dois textos que aparentam contrariedade, devemos perguntar:
• O testemunho de Jesus só pode ser validado por outro homem?
• O testemunho a respeito de si próprio é válido?
• Por que precisava de outros testemunhos?
Para
responder à primeira e à terceira pergunta, temos de ser sinceros e
aceitar que realmente alguém só deveria ser acreditado se pudesse
provar, por testemunhas, suas reivindicações.
Se alguém testemunhasse de
si mesmo às autoridades rabínicas, diante de um tribunal, seu
testemunho não seria considerado válido.
Ora, esse não é o procedimento
normal, até mesmo na sociedade contemporânea, alguém apelar para a
justiça dos homens quando seu caso é julgado diante de um juiz?
Isto é,
de alguma forma, Jesus necessitava de algum tipo de testemunho a seu
respeito para que provasse sua messianidade, por exemplo.
Jesus não
precisava testemunhar de si próprio que Ele era o Messias tão esperado
pelos judeus, mas, para que os judeus acreditassem nele, outras pessoas
deveriam dar testemunho a seu respeito.
Para isso, Jesus contava com
testemunhas externas.
E teve essa prova em diversas ocasiões.
Em resumo:
seus milagres foram vistos por inúmeras pessoas.
João Batista deu
testemunho a seu respeito (Jo 1.7,15,19).
E o próprio Deus deu
testemunho de Jesus em dois episódios: no batismo e no momento da
transfiguração (Mt 3.16,17; 17.5).
É relevante atentar para a
história do povo hebreu.
A vinda de um Messias, salvador e libertador,
era um pensamento normal na cultura judaica.
O povo judeu, por diversas
vezes, esteve sob jugos estrangeiros: egípcios, babilônicos, persas,
gregos, sírios, romanos, entre outros.
Na época dos juízes, ainda que as
pressões sobreviessem dos povos semitas, alguns “parentes” dos judeus,
Deus levantava juízes que, na verdade, eram libertadores do domínio
inimigo.
Não foram poucos os anos passados em terras distantes,
estranhas e em situações adversas.
Por isso, o assunto sobre a vinda de
um Messias enchia de esperança o povo judeu.
Chegando o tempo proposto
por Deus o Messias veio, porém, os judeus estavam equivocados quanto às
suas atribuições.
Em João 1.41, o discípulo André disse a seu
irmão Simão Pedro:
“Achamos o Messias (que, traduzido, é o Cristo)”.
Filipe disse a Natanael:
“Havemos achado aquele de quem Moisés escreveu
na lei, e os profetas:
Jesus de Nazaré, filho de José” (Jo 1.45).
Ao
dialogar com Jesus, a mulher samaritana disse:
“Eu sei que o Messias
(que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo” (Jo
4.25).
Ao que Jesus, prontamente, respondeu:
“Eu o sou, eu que falo
contigo” (Jo 4.26).
Daí em diante, a mulher passa a testemunhar de
Jesus.
“Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse
àqueles homens:
Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho
feito.
Porventura não é este o Cristo?
Saíram, pois, da cidade, e foram
ter com ele.
E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela
palavra da mulher, que testificou:
Disse-me tudo quanto tenho feito” (Jo
4.29,30,39).
Esses exemplos provam que as pessoas têm necessidade
de testemunhar sobre Jesus.
Ou seja, Ele não precisava falar de si
próprio que era o Messias prometido no Antigo Testamento.
Os testemunhos
a respeito de Jesus procederam de pessoas simples, sinceras, e eram
testemunhos verdadeiros (se bem que não de todos).
A questão do
“testemunho de Jesus não ser verdadeiro” deve ser entendida no sentido
de que “palavras sem a necessária confirmação de santidade e poder não
convencem.
Os judeus, baseados nos seus preconceitos, atribuíram maldade
a Jesus.
E Jesus, por sua vez, defendendo suas reivindicações
messiânicas, apela para a regra bíblica que exigia duas testemunhas (Nm
35.30; Dt 17.6)”.
Em suma, a resposta à segunda pergunta (O
testemunho a respeito de si próprio é válido?) é afirmativa:
SIM!
Jesus
não era somente o Messias prometido, mas também Deus encarnado.
Sendo
assim, apenas o testemunho humano não é pleno.
Ora, Jesus falava com
propriedade do que já havia experimentado na eternidade.
Ao orar ao Deus
Pai, disse:
“E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com
aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5).
Para Nicodemos, asseverou:
“Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que
desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu” (Jo 3.13).
O
texto de João 8 sugere que a discussão tinha a ver com o perdão de Jesus
outorgado à mulher pecadora.
Quando Jesus diz “quem me segue não andará
em trevas, mas terá a luz da vida”, obviamente está se referindo a algo
muito maior do que ter o messianismo endossado pelos judeus.
Fala de
algo espiritual, místico, metafísico e, neste sentido, Ele não precisa
do endosso de um ser humano.
Tanto é assim que os fariseus disseram a
Jesus:
“Tu testificas de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro”.
Ao que Jesus rebateu:
“Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu
testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim, e para onde vou; mas
vós não sabeis de onde venho, nem para onde vou” (Jo 8.13,14).
Pelo
fato de Jesus ser o Emanuel (Deus conosco), não necessita de provas
humanas.
Jesus, como todo bom judeu, conhecia bem as normas e os
regimentos prescritos aos judeus e, logicamente, como em outros casos
muito mais complexos, não os violaria.
Contudo, no caso em questão,
Cristo não falava como um simples judeu, mas, sim, como o Soberano do
Universo, por isso não precisava de testemunhos.
Até porque, os
inquiridores de Jesus não estavam aptos a testemunharem a respeito dele,
e muito menos a aceitarem seu próprio testemunho.
Norman Geisler
arremata:
“O testemunho de Jesus não era verdadeiro: oficialmente,
legalmente e para os judeus, mas era verdadeiro “factualmente,
pessoalmente e em si mesmo”.
Jesus tinha os testemunhos completos: das
pessoas alcançadas por Ele, de, até mesmo, alguns de seus inimigos e
dele próprio.
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