Páginas

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Sempre Haverá um Futuro.


O amanhã é inevitável. Inexoravelmente tudo caminha para ele e a ele se destina. 

Na ampulheta do universo a areia escorre e não pode ser contida de forma alguma. 

A cada momento, segundo a segundo, o futuro chega e a forma definitiva que ele tomará em sua plenitude tornar-se-á evidente em algum momento. 

A verdade é que o futuro existe, senão como fato, ao menos como certeza, pois sempre haverá um amanhã, seja ele qual for.

Nada nem ninguém foge do amanhã. 

Existir é rumar para o futuro.  

De fato, o futuro não nos pertence, mas nós definitivamente pertencemos a ele. 

Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre[1], escreveu o Eclesiastes. 

Não por acaso nosso Deus é El Olam, o Deus Eterno[2]. 

A lei de Lavoisier, onde nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, contém um pouco dessa verdade. 

E quanto se trata de nós, da humanidade e do mundo não conseguimos deixar o assunto de lado. 

Quem pode pensar, pensará a cerca do futuro. 

De certo modo, tudo mora na “mansão do amanhã”, para usar uma expressão de Gibran.

Profecias, oráculos, máquinas do tempo, bolas de cristal, previsões futurísticas e outros tantos elementos exprimem esse desejo do ser humano de conhecer o amanhã. 

Não lhe basta escavar o que passou ou presenciar o hoje. 

Ele também deseja ver o amanhã ou se possível, ser o dono dele.

O fim vem! 

O fim vem! 

É o grito repetido pelo profeta que tem poder para tirar o homem do seu sono, o operário do seu trabalho, os noivos de sua recâmara, e levar todos eles a uma reflexão detida sobre suas vidas. 

Eles querem um futuro e precisam sentir merecer esse futuro. 

Nem só pão vive o homem. 

De esperança também vive ele.

Viver somente o hoje sem pensar no amanhã não anula o futuro de forma alguma. 

Ele tem sua existência independente de nossa vontade, de nossas opiniões, de nossas crenças. 

Ele vem e chegará com certeza, mesmo para aqueles que procuram ignorá-lo e quando ele chegar trará a resposta para muitas perguntas que dominam hoje o cenário da humanidade. 

E mesmo para aqueles que nada perguntaram. 

Quando o futuro chegar ele não se importará com os enganos e mentiras espalhados ao longo do tempo. 

Ele será o cumprimento exato do que deve ser. 

Ele vai expor a verdade e destruir completamente a mentira.

De certa forma, o futuro é como Deus, completamente invisível aos sentidos, mas real. 

Só pode ser alcançado pela fé. 

Sua existência é simultaneamente um mistério e um axioma.

É quase impossível existir e não pensar nesse amanhã, seja o amanhã imediato, seja o amanhã longínquo. 

Todas as pessoas estão plenamente cientes de que o mundo se move em alguma direção por mais oculta que ela esteja e, portanto tentam penetrar nesse espesso véu para descobrir como será o futuro. 

Esse futuro ocupa boa parte de nossos pensamentos, anseios, reflexões. 

O amanhã existe e nos incomoda, não apenas o amanhã individual, mas também o amanhã universal, o amanhã cósmico. 

Quando trabalhamos, lutamos, sofremos, nós o fazemos pelo amanhã. 

Para nós hoje, tudo é semente. 

O fruto está no porvir.

Por estranho que pareça, passado e futuro ocupam mais a mente do ser humano do que propriamente o presente. 

Lembranças e expectativas constantemente deslocam o homem de hoje e o transportam para longe do seu agora. 

Lembranças e expectativas boas geralmente o alegram e estimulam, mas quando não boas produzem os traumas e a ansiedade. 

De qualquer forma, esse transporte a outros tempos muitas vezes reduz sua existência atual em uma corrente de águas que flui por entre os seus dedos e por isso ele não desfruta do seu agora. 

Seu lamento pelo ontem e seu anseio pelo amanhã tornam seu hoje algo menos do que deveria ser. 

Sobre isso se expressou Blaise Pascal:

Nunca nos atemos ao presente; apropriamo-nos antecipadamente do futuro, como se ele viesse muito devagar, como se quiséssemos acelerar-lhe o passo; lembramo-nos do passado como para segurá-lo, já que desaparece muito depressa. 

Que insensatez errar por tempos que não são nossos e esquecer o único que nos pertence; que vaidade correr atrás dos que não existem e perder o único que tem existência… 

Raramente pensamos no presente, e se pensamos nele só o fazemos para acender a luz de que queremos dispor no futuro.  

Nunca o presente é meta; presente e passado são meios, o futuro somente é a nossa meta. 

Assim nunca vivemos, mas esperamos viver; e assim é inevitável que nós, prontos sempre a sermos felizes, nunca o somos. (Pensamento 172).

Como podemos perceber a relação do homem com o futuro é uma ligação muito estreita e impossível de ser ignorada. 

E se escatologia, o estudo do escathos, das últimas coisas, diz respeito ao futuro, então ela não pode de forma alguma ser ignorada. 

Ela é parte inerente da existência. 

Se é para pensar sobre o futuro, pensemos segundo Deus.

[1]Eclesiastes 3.14 (NVI)
[2] Gênesis 21.22

Nenhum comentário: