O
amanhã é inevitável. Inexoravelmente tudo caminha para ele e a ele se
destina.
Na ampulheta do universo a areia escorre e não pode ser contida
de forma alguma.
A cada momento, segundo a segundo, o futuro chega e a
forma definitiva que ele tomará em sua plenitude tornar-se-á evidente em
algum momento.
A verdade é que o futuro existe, senão como fato, ao
menos como certeza, pois sempre haverá um amanhã, seja ele qual for.
Nada
nem ninguém foge do amanhã.
Existir é rumar para o futuro.
De fato, o
futuro não nos pertence, mas nós definitivamente pertencemos a ele.
Sei
que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre[1], escreveu o
Eclesiastes.
Não por acaso nosso Deus é El Olam, o Deus Eterno[2].
A lei
de Lavoisier, onde nada se perde, nada se cria, tudo se transforma,
contém um pouco dessa verdade.
E quanto se trata de nós, da humanidade e
do mundo não conseguimos deixar o assunto de lado.
Quem pode pensar,
pensará a cerca do futuro.
De certo modo, tudo mora na “mansão do
amanhã”, para usar uma expressão de Gibran.
Profecias,
oráculos, máquinas do tempo, bolas de cristal, previsões futurísticas e
outros tantos elementos exprimem esse desejo do ser humano de conhecer o
amanhã.
Não lhe basta escavar o que passou ou presenciar o hoje.
Ele
também deseja ver o amanhã ou se possível, ser o dono dele.
O fim
vem!
O fim vem!
É o grito repetido pelo profeta que tem poder para tirar
o homem do seu sono, o operário do seu trabalho, os noivos de sua
recâmara, e levar todos eles a uma reflexão detida sobre suas vidas.
Eles querem um futuro e precisam sentir merecer esse futuro.
Nem só pão
vive o homem.
De esperança também vive ele.
Viver somente o hoje
sem pensar no amanhã não anula o futuro de forma alguma.
Ele tem sua
existência independente de nossa vontade, de nossas opiniões, de nossas
crenças.
Ele vem e chegará com certeza, mesmo para aqueles que procuram
ignorá-lo e quando ele chegar trará a resposta para muitas perguntas que
dominam hoje o cenário da humanidade.
E mesmo para aqueles que nada
perguntaram.
Quando o futuro chegar ele não se importará com os enganos e
mentiras espalhados ao longo do tempo.
Ele será o cumprimento exato do
que deve ser.
Ele vai expor a verdade e destruir completamente a
mentira.
De certa forma, o futuro é como Deus, completamente
invisível aos sentidos, mas real.
Só pode ser alcançado pela fé.
Sua
existência é simultaneamente um mistério e um axioma.
É quase
impossível existir e não pensar nesse amanhã, seja o amanhã imediato,
seja o amanhã longínquo.
Todas as pessoas estão plenamente cientes de
que o mundo se move em alguma direção por mais oculta que ela esteja e,
portanto tentam penetrar nesse espesso véu para descobrir como será o
futuro.
Esse futuro ocupa boa parte de nossos pensamentos, anseios,
reflexões.
O amanhã existe e nos incomoda, não apenas o amanhã
individual, mas também o amanhã universal, o amanhã cósmico.
Quando
trabalhamos, lutamos, sofremos, nós o fazemos pelo amanhã.
Para nós
hoje, tudo é semente.
O fruto está no porvir.
Por estranho que
pareça, passado e futuro ocupam mais a mente do ser humano do que
propriamente o presente.
Lembranças e expectativas constantemente
deslocam o homem de hoje e o transportam para longe do seu agora.
Lembranças e expectativas boas geralmente o alegram e estimulam, mas
quando não boas produzem os traumas e a ansiedade.
De qualquer forma,
esse transporte a outros tempos muitas vezes reduz sua existência atual
em uma corrente de águas que flui por entre os seus dedos e por isso ele
não desfruta do seu agora.
Seu lamento pelo ontem e seu anseio pelo
amanhã tornam seu hoje algo menos do que deveria ser.
Sobre isso se
expressou Blaise Pascal:
Nunca nos atemos ao presente;
apropriamo-nos antecipadamente do futuro, como se ele viesse muito
devagar, como se quiséssemos acelerar-lhe o passo; lembramo-nos do
passado como para segurá-lo, já que desaparece muito depressa.
Que
insensatez errar por tempos que não são nossos e esquecer o único que
nos pertence; que vaidade correr atrás dos que não existem e perder o
único que tem existência…
Raramente pensamos no presente, e se pensamos
nele só o fazemos para acender a luz de que queremos dispor no futuro.
Nunca o presente é meta; presente e passado são meios, o futuro somente é
a nossa meta.
Assim nunca vivemos, mas esperamos viver; e assim é
inevitável que nós, prontos sempre a sermos felizes, nunca o somos.
(Pensamento 172).
Como podemos perceber a relação do homem com o
futuro é uma ligação muito estreita e impossível de ser ignorada.
E se
escatologia, o estudo do escathos, das últimas coisas, diz respeito ao
futuro, então ela não pode de forma alguma ser ignorada.
Ela é parte
inerente da existência.
Se é para pensar sobre o futuro, pensemos
segundo Deus.
[1]Eclesiastes 3.14 (NVI)
[2] Gênesis 21.22
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